segunda-feira, junho 24, 2013

O cristão com a boca no trombone?

O cristão e o direito (e dever) de protestar


Essa semana foi ímpar na história de nosso país. O aumento do transporte público foi o estopim para liberar um grito de indignação contra a corrupção e a injustiça social, dentre outras coisas.
O assunto dividiu os cristãos. Muitos se engajaram. Outros, porém, apesar de partilharem do mesmo descontentamento, recearam se levantar em protesto contra os governos estabelecidos. Para esses,  confrontar a autoridade instituída parece incongruente com a Bíblia pois ela ensina a 1) reconhecer que toda a autoridade é instituída por Deus e por isso devemos ser submissos a ela (Rm 13.1); 2) Orar pelos governantes (1Tm 2.1-2) e honrá-los (1Pe 2.17); 3) Buscar a paz da cidade (Jr 29.7).
Esse questionamento, portanto, é legítimo pois, em uma primeira análise, parece realmente que a Palavra de Deus desautoriza o cristão a protestar contra o governo e os irmãos que assim pensam devem ser respeitados por calcarem suas opiniões naquilo que pensam ser a vontade de Deus.
Gostaria de tentar trazer luz a esse debate, expondo os seguintes pontos:

1. A autoridade é instituída por Deus para fazer o bem (Rm 13.4). Não temos qualquer autorização para confrontarmos o governante que procura o bem de seu povo. Já o contrário, é outra história.
2. A autoridade do governante não é inata mas delegada: a) Por Deus acima de tudo: "Por meu intermédio os reis governam, e as autoridades exercem a justiça" (Pv 8.15). Na mesma linha de raciocínio, Jesus confirmou a Herodes: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima". (Jo 19.11) b) Pelo povo. Nas democracias modernas o governante recebe o direito de governar das mãos do povo através do voto. No momento da posse ele, solenemente, promete não medir esforços pelo bem do cidadão. c) Pela Carta Magna do País, a Constituição Federal que assevera direitos inalienáveis ao cidadão, como a liberdade de expressão, por exemplo.
3. Cabe ao cristão ser voz profética diante do mundo. Já diziam que o cristão deve ser a âncora moral da sociedade. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus levantou homens para denunciar publicamente o mal. Examinemos alguns exemplos:
a) Isaías - Clamou contra a injustiça, o suborno, a maldade e a opressão destruidora contra o próximo. Ninguém tem direito de oprimir o outro. Isaías dizia que atos como aqueles eram ofensivos a Deus. Quem tinha condições comprava a justiça, portanto, os juízes eram corruptos, o poder legislativo e executivo se deixava vender; como poderia Deus tolerar semelhante coisa? (1:15-17,23; 5:8,23; 58:6,7).
b) Jeremias -  Denunciou o enriquecimento ilícito e também a opressão contra: pobres, viúvas, órfãos; também percebeu que a ambição se assenhoreava dos homens. O profeta viu o rico comprando os tribunais, o perverso ser absolvido e o justo condenado. Ele clama, denuncia e diz que Deus, o justo juiz, irá castigar todo tipo de injustiça praticada pelo homem (5:26-29; 9:2-6; 22:13-17).
c) Amós - Não se amedrontou diante das autoridades, acusou-as de conivência com as injustiças; denunciou o pecado de participarem de um sistema de vida que destruía os mais fracos, os humildes e os pobres da terra. Enquanto o império se expandia pelas mãos de Jeroboão II, os camponeses tinham de pagar o exército, o luxo e a suntuosidade dos estádios..., ops, dos palácios. Uma desigualdade tão grande que causou repugnância aos olhos do profeta. Amós denunciou, trouxe a Palavra do Senhor pois não podia calar-se ao ver tanta riqueza adquirida como fruto da violência e da exploração (3:10). Falou diante das finas damas, não poupou seu vocabulário, ao dizer que elas eram “vacas de basã” (4:1). Devido a todos os abusos cometidos contra os mais fracos, Amós se convenceu: Deus irá tomar vingança, Ele não poupará nenhum no dia do juízo (4:2,3; 8:7-10).
d) Miquéias - Se levantou como a voz de Deus e clamou contra todos os abusos cometidos pelos detentores do poder. Ele sabia dos que passavam a noite planejando o mal, para colocar em prática à luz do dia (2:1,2). Ele denunciou aquilo que foi conquistado ilicitamente, às custas da mentira, da balança falsa e da opressão; quem se enche com o sangue dos outros será destruído por Deus - disse ele (6:10-13). A liderança do país estava corrompida (7:3). Miquéias vê, analisa e revela a voz de Deus. Ele irá exercer vingança contra esta forma de vida corrupta.
4. Nem todo protesto constitui de fato uma desobediência. Nossa Constituição garante o direito da livre expressão de consciência, de credo e de culto. Não existe forma legal de criminalizar a opinião de quem quer que seja. Isso posto, criticar o governo naquilo que entendemos ser criticável, se feito de maneira respeitosa e ordeira é um instrumento legítimo assegurado por lei.
5. A crítica não anula a intercessão. A crítica e o protesto não são incongruentes com o dever cristão de orar pelas autoridades. Ao contrário, como Deus é soberano sobre elas, nossa missão deve ser clamar a Deus para que elas se curvem à sua vontade.
Confesso que a questão é complexa e a linha do equilíbrio é tênue, pois, por um lado, realmente podemos pecar pelo desacato à autoridade instituída por Deus; e, por outro, podemos nos omitir como voz profética nos dias maus.

Para nós, cristãos, o que pode nos dar um norte nesse dilema é olharmos a questão com olhos mais teológicos. Os 20 centavos, por mais simbólicos que sejam, ainda assim significam muito pouco diante da contribuição que poderíamos dar. Para o mundo, basta ter segurança, escola, comida e moradia. Tudo isso a maioria dos países europeus tem e ainda assim são como Laudicéia, “digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.” (Ap 3.16).
Devemos ir além do social. Precisamos mostrar que a corrupção social é derivada de um coração corrompido que faz tudo para desprezar o verdadeiro Deus. Volte aos profetas mencionados e você verá que eles não sabiam criticar sem revelar o descontentamento de Deus com a nação. Esse papel é nosso. É o nosso salvador que deixou o exemplo de curar, saciar e salvar. Somente falando dele é que realmente iremos ao encontro de todas as necessidades do ser humano. Pense nisso!

3 comentários:

Anônimo disse...

Não podemos esquecer que Israel era o povo de Deus não era uma nação comum a forma de governo era Teocrática e não democrática, e os profetas não falavam deles mesmos inspirados em justiça própria e sim segundo a palavra de Deus, creio que o melhor protesto pra nós cristãos é entrarmos nos quarto e orarmos em secreto e o pai que vê em secreto nos recompensará, esse é o trombone do Cristão, como nos ensina o nosso Mestre e também o profeta Jeremias declarou se se o povo se humilhar, orar e buscar a face de Deus ele sararia a sua terra. Se todo aqueles que se dizem evangélicos agissem conforme o Evangelho do Reino o Brasil com certeza estaria melhor.
Paulo ensina que nós devemos julgar os que estão dentro pois os que estão fora Deus julgará.(1 Coríntios 5:12-13).

VOLTEMOS ÀS RAÍZES disse...

o início do cristianismo, a escravidão era uma instituição bem estabelecida e de uma crueldade sem limites. Não era difícil imaginar que os crentes fossem chamados a empreender uma campanha pela abolição através de passeatas e manifeatações diversas. No entanto, não vemos na Bíblia Paulo e os apóstolos se pronunciarem contra os males da escravidão da época. Paulo e os apóstolos nunca encabeçaram movimentos contra a escravidão. A epístola de Filemom mostra-nos que os crentes da igreja primitiva não moveram um dedo para mudar a situação. Onésimo, escravo fugitivo, converteu-se por meio da pregação do apóstolo Paulo em Roma. Em vez de Paulo aproveitar a ocasião para combater o mal da escravidão, ele faz um apelo espiritual e insiste para que o escravo Onésimo, embora continuasse sendo escravo, fosse agora recebido como irmão, e irmão amado pelo seu amo Filemom (Filemom 10:16). É claro que não podemos ficar indiferentes a um governo opressor e cruel. Mas, lembremo-nos de que o recurso do crente é o próprio Deus, não a agitação, a propaganda política, as petições dirigidas ao Congresso ou a mobilização das massas. O recurso da igreja é entrar na presença de Deus em oração e jejum, depositar diante dEle o fardo que o mundo faz pesar sobre o nosso coração e depois sair para a proclamar as Boas Novas de Cristo aos homens. É importante observar que a escravidão findou no império romano com os crentes praticando o amor tanto ao capataz como ao escravo. A igreja deve se opor às injustiças sociais, não elegendo seus membros a cargos políticos, fazendo passeatas, manifestações, mas anunciando o Evangelho que é o poder de Deus que transforma aqueles que praticam injustiças

Cristina Fiuza disse...

Desculpe,mas você está enganado. O sistema teocrático terminou quando Israel exigiu um rei. A partir daí o sistema passou a ser monárquico, e Deus levantou profetas,homens tementes a Deus para Protestar contra as injustiças e idolatrias do seu povo. Hoje,o povo de Deus é a igreja,e nós cristãos tementes a Deus, não podemos calar,muitos cristãos já foram mortos por não se curvarem aos governos passados,que também como hoje foram corruptos, injustos e infiéis ao criador. Devemos orar sim,mas Deus nunca mandou o seu povo se calar ou ficar parado diante dos obstáculos.. Muito pelo contrário, ELE enviou homens pra guerra, profetas aos maus governantes. Leia a biblia e veja como Israel conquistou a terra prometida,Deus era com eles,mas não mandou ninguém ficar parado,orando. Deus o abençoe.

Related Posts with Thumbnails